quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Lembranças de Mar

por Kywsy Santos
A primeira vez que eu vi o mar, a primeira vez que eu me lembro, voltei pra casa com uma sensação mágica e com uma mágica muito real em mim que levou algum tempo pra sumir: Toda vez que fechava os olhos, via as ondas quebrando na praia...
Eu devia ter nove ou dez anos. Só me lembro de retalhos daquele dia, uma imensidão de areia, um dia bem claro, uma menina olhando o mar... Sei que minha irmãzinha estava comigo, por um comentário bobo que ela fez e que fez todos sorrirem: alguém havia botado sal na água...
Mas, além disso, mais nada. Nem do mar, o verdadeiro, eu consigo me lembrar. A imagem mais forte em minha mente é aquela que eu conquistei, abrindo e fechando os olhos no caminho de volta pra casa: o movimento mágico das ondas do mar.
Cíclica a vida, meu namoro com o mar se repete a cada nove ou dez anos: poucos anos antes de vir para o norte, ainda um bebê, enquanto meus pais tomavam banho de mar, eu ficava sobre uma toalha na areia da praia, guardada por um cão pastor alemão treinado e pronto para o ataque, Zago, minha primeira babá; aos nove ou dez anos, o encontro mágico que acabo de narrar e, entre alguns sufocos, caldos e marias-farinhas, um namoro de mãos dadas ao luar; aos 19, passamos um ano inteiro próximos, eu e o mar, e quando eu ia para o estágio ou para o colégio sempre escolhia o lado do ônibus que me deixaria vê-lo, ainda que por um breve momento. Nessa época eu sonhava em tomar banho de mar à noite, era uma sensação maravilhosa aquela do sonho. Tanto comentei, tanto pedi, que minha mãe acabou deixando, um dia quando acompanhávamos um bloco de Carnaval. Nessa noite, com apenas uma palavra posso descrever o fim daquela fantasia: frio. Muito frio e muito vento. Não houve namoro ao luar aos 19, conheci alguém, mas, antes do mar tive que ir embora. Ele me levou até a parada do ônibus naquela noite. Havia chovido e o asfalto refletia seu vulto quando o ônibus se afastou. No peito pesava a dor de haver perdido algo que ainda não era, mas poderia ter sido. Não preciso fechar os olhos para ver o vulto dele imóvel, se afastando enquanto o ônibus partia...
Esse mar pernambucano, eu só voltei a ver de passagem, quando voltava pra casa com meus filhos, já perto dos trinta. Estranho sempre termos nos encontrado em momentos cruciais, de mudança e de partida. Aos trinta, pela primeira vez, eu realmente queria estar ali, sentia saudades, me identificava de alguma forma com aquele povo e, justo nesse momento, eu estava apenas passando. Namoro difícil esse nosso... Cheio de histórias...
Verdade que sinto saudades e que, até ter escrito essas linhas ainda não havia percebido que o tempo passou e, agora, aos quarenta e tantos anos... seria bom revê-lo... seria bom.


Um comentário:

  1. Você tem saudades de um namoro que você já viu, já copnheceu. Eu tenho saudades de um amor que não conheci, que não presenciei, que não coesisti. Para mim não existem lembranças, não existem imagens verdadeiras, só o que imagino, só o que idealizo.
    Agradeço por minha imaginação ser fertil, porque se não fosse assim, jamais conseguiria recordar aquilo que não poderia recordar, porque não estava em mim, porque não foi com esse amor que desconheço, vivo esperando te encontrar, amor.

    ResponderExcluir