terça-feira, 27 de setembro de 2011

Amantes

Um deles era reservado e estranho e costumava assumir o mal como bandeira,  como condição objetiva de humanidade. Mal que era bom, que era dele e de todos, negado e perseguido apenas por hipócritas e abastados.  Filosoficamente, limitara seu mundo a duas verdades absolutas: um discurso de realidade, a dele; e a um "estado de natureza" - conceito muito amplo que variava desde um apelo biológico, como o sexo, às ações coercitivas do Estado ou das supostas "leis internacionais". Considerava-se um soldado. Guerreiro de uma guerra absoluta cujo único objetivo consistia em subjulgar seus inimigos e reduzí-los a pó. Depois, mais inimigos: mocinhas provocantes, mulheres mal amadas, bichas, doentes mentais e burgueses - todos pecadores, todos culpados, condenados e, certamente, ao alcance da merecida punição. Parecia não compreender nada além do que justificasse suas ações infames, sua violencia incontida. Violencia que nunca se manifestava contra um adversário à sua altura, contra esses, apenas o discurso, a malandragem. Ainda assim, julgava-se uma vítima. Não acreditava no amor e era apenas no sexo que expressava todo o  seu potencial de ternura, suavidade e devoção. Não fazia amor, era um mestre na arte de dar prazer, um artista.

O outro,  era apenas diferente, mas, de alguma forma, profundamente igual...

Para ela não era uma questão de escolha, mas, de sobrevivência, e isso lhe dava coragem para encontrar dentro de si a lascívia, a covardia, o oportunismo, enfim, todo o arsenal necessário para subjulgar seus inimigos e reduzí-los a pó.

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Enseada

por Kywsy Santos

Pode ser um engano fatal,
ou não...
Pode ser "outra vez", nada mais,
talvez...
Pode ser que eu me esqueça, que eu não apareça, que eu desapareça,
não sei...



Outra vez o cenário ideal, eu vi...
Outra vez as estrelas no céu, toquei...
Vi a sombra de um anjo, num breve momento, passou como um vento,
se foi...


Uma linha separa dois mundos
Uma linha divide dois tempos
Dois momentos distantes, num céu cintilante, que um passo modificará...


O que será?
O que será?
O que será?!
Como escolher?
Como saber?

Dá tua mão...
Nada é menor que encontrar-se tão só!
Deixa eu pensar que eu existo...
Que você é real neste instante...
Olha pra mim, fica assim...
Me concede esse quarto de segundo,
Depois nós voltamos pro mundo.


(Escrito em 23 de Maio de 2011).