quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Te confio um segredo...

por Kywsy Santos

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Prefiro trabalhar com a verdade, a mentira não é uma opção aceitável, existe ainda o silêncio, a distância, a privacidade e um sem fim de opções intermediárias, mas, a verdade tem lá as suas vantagens... Uma delas é a acessibilidade e a clareza: a verdade é fácil! É sempre a mesma, a primeira informação ao alcance do cérebro. "Foi assim, dessa forma, nesse momento e por esse motivo" - fácil, clara, objetiva e nunca muda, ou seja, perfeita! Quase perfeita...

Toda comunicação é uma  troca entre alguém que passa uma mensagem e alguém que recebe. Também existe o código, o formato da mensagem, que deve ser compreensível para todos os envolvidos. No que tange ao código, muitos acreditam que trata-se apenas da linguagem, do 'signo' utilizado, ou da compreensão do universo cultural dos envolvidos, mas, deixando a erudição acadêmica um pouco de lado, penso que a vivência pessoal de cada um, os seus valores (ou a completa falta deles) infuenciam diretamente o resultado de qualquer comunicação. O problema da verdade é "o outro". 

Eu explico: toda verdade é frágil e perfeitamente manipulável no confronto com o olhar do outro, porque o sentido e a intenção vão se revelar a partir desse universo e não daquele que lhe deu origem. E quando, inevitavelmente, ela é submetida a uma cadeia sucessiva de livres interpretações... que Deus tenha piedade de nossas boas intenções. A minha verdade pode assumir mil faces, assim como a tua e a de todos os outros. Cuida dela com carinho e não a confia a quem não pode compreendê-la. Somos frágeis...

“–  Eu, D. Assunta da Abadia, viúva triste, venho trazer, pela mão, conforme o prometido, o meu filho – Eusébio da Abadia”...        (Nelson Rodrigues).


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Aventura

por Kywsy Santos

Era mais fácil viver nos tempos que já se foram, haviam mundos a ser descobertos, batalhas a vencer, barreiras sociais intransponíveis que teríamos que derrubar, amores que valiam cada gota de sangue de nossas vidas miseráveis, enfim, havia paixão!!! A vida que se vivia mexia com cada corda desafinada das nossas entranhas. Era mais fácil viver...

Espero te ver.  A montanha, vista de perto, é tudo menos uma montanha.  O olhar minucioso é bom, mas também engana.  Existe a sombra e a luz, a Rosa dos Ventos, mas, a montanha é muito mais que a soma dos seus detalhes, que o mapeamento de todos os seus espaços.  Também existe a história e ela explica muita coisa, ainda assim, é apenas um recorte, um modo de olhar, não é a montanha, nunca será.  Todas as vezes que olho, todas as vezes que busco, sempre encontro algo novo... Então, porque a pressa? 

Ainda ontem, um gesto, apenas um toque, me engessou pra sempre na tua memória. Agora eu tenho um rótulo, um significado, estou presa às teias de tua memória como uma personagem classificada de um museu de insetos e, sempre que me olhar, vais saber que sou o número 108.349,  do livro  232,  volume 7,  da tua coleção de seres peçonhentos e, graças a esse modo peculiar de olhar, tudo que vier de mim: é veneno. Daqui de onde estou, posso me ver num vidro fechado, esquecido nos fundos de um laboratório, sobre uma prateleira velha, empoeirada e cheia de teias, saltando, agitando os braços e gritando quase sem voz:  Por favor, olha outra vez!!!