quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Debaixo da Mangueira


No livro "O mundo sutil do amor", de Deepak Chopra, tem uma passagem onde uma mulher sábia fala do amor para um discíplo. Ele a pergunta sobre a constância do amor em nossas vidas e ela lhe responde que, às vezes, é como olhar o céu ensolarado por baixo de uma árvore frondosa, por um momento pode parecer que é tudo sombra, mas, o movimento das folhas acaba deixando o sol passar e você tem a certeza de que ele vai estar sempre ali, mesmo que você não possa vê-lo.

Essa passagem é recorrente em meus dias, sempre que penso em você: ela me vem à mente, como um mantra e eu posso ver o sol brilhando por trás das folhas da mangueira que eu amava, na fazenda de meu pai. Eu volto a ser criança toda vez que ativo essa lembrança. Ontem a lua  brilhava entre as folhas da mangueira do vizinho...  foi bom... me fez sorrir. São coisas que não se planeja, não podem ser manipuladas, nem explicadas... Ainda assim, eu quero te perguntar: qual foi o teu mérito nisso? o que você fez conscientemente pra que isso acontecesse? Porque o meu único mérito foi estar  com o coração aberto e ter coragem para receber esse presente. Só isso.

Não é que eu não veja os teus defeitos, é que quando estou decepcionada, quando o sangue ferve e me põe de prontidão para o ataque, além de todas as mensagens de tolerância que recebo, dos livros, dos muros, das canções que passam por mim e das estrelas cadentes, além de todos os lugares onde decidiram pichar teu nome, existe um sussurro que me diz serenamente: "este é meu filho amado". E eu só consigo te alcançar quando a paz me alcança. E é só por isso que o Tepequém permanece adormecido. E é só por isso que eu só sei amar você.


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Quando nada é mais



Obrigada... Antes de mais nada eu preciso dizer: "Obrigada!" E explicar que não há nada de irônico nesse agradecimento urgente, desesperado e fora de contexto. Nenhum cinismo, nenhuma vontade de pensar o quanto tudo poderia ser... diferente. É só o tempo, passando muito rápido, as incertezas que se acumulam e passam sem respostas e a tua imagem... a tua presença... que não me sugere nenhum reencontro. A certeza de uma presença fugaz é a razão da minha pressa... a pressa... a presa... a caça... o risco... a história.... tudo que ficou de fora no recorte de nosso encontro, tudo que não faz falta se o encontro for possível. Que mundo é esse?! Mundo que existe a partir do nada, do zero, do esquecimento voluntário de todo o resto? Não sei. Sei de uma paz profunda... E uma sensação de que ninguém mais, além de mim, compreenderia. Eu te agradeço essa paz. 

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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Chão de Estrelas


 Nós éramos pequenos, ou nos sentíamos assim, aquela coisa de não ter que se preocupar com nada, ou quase nada. O mundo da fantasia era perfeitamente acessível e nós o vivíamos com intensidade e fervor. Acreditar é o resultado óbvio dessa vivência, dessa tradição de proteção da infância. Seu legado é uma certeza implícita de que tudo vai dar certo e de que o outro é essencialmente bom. Acho que a primeira infância é que conta, se você puder vivê-la bem, se sentir amado e protegido dentro dela, você vai ser uma dessas pessoas que acredita, que tem acesso à possibilidade de um bem maior, uma pessoa com uma bandeira de fé. Hoje, tempos de paz, tempo presente, instante agora. E agora, supondo que eu cresci, desejo que a bandeira dos nossos lençóis saciados inunde o mundo dessa certeza de bondade e paraíso.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Amantes

Um deles era reservado e estranho e costumava assumir o mal como bandeira,  como condição objetiva de humanidade. Mal que era bom, que era dele e de todos, negado e perseguido apenas por hipócritas e abastados.  Filosoficamente, limitara seu mundo a duas verdades absolutas: um discurso de realidade, a dele; e a um "estado de natureza" - conceito muito amplo que variava desde um apelo biológico, como o sexo, às ações coercitivas do Estado ou das supostas "leis internacionais". Considerava-se um soldado. Guerreiro de uma guerra absoluta cujo único objetivo consistia em subjulgar seus inimigos e reduzí-los a pó. Depois, mais inimigos: mocinhas provocantes, mulheres mal amadas, bichas, doentes mentais e burgueses - todos pecadores, todos culpados, condenados e, certamente, ao alcance da merecida punição. Parecia não compreender nada além do que justificasse suas ações infames, sua violencia incontida. Violencia que nunca se manifestava contra um adversário à sua altura, contra esses, apenas o discurso, a malandragem. Ainda assim, julgava-se uma vítima. Não acreditava no amor e era apenas no sexo que expressava todo o  seu potencial de ternura, suavidade e devoção. Não fazia amor, era um mestre na arte de dar prazer, um artista.

O outro,  era apenas diferente, mas, de alguma forma, profundamente igual...

Para ela não era uma questão de escolha, mas, de sobrevivência, e isso lhe dava coragem para encontrar dentro de si a lascívia, a covardia, o oportunismo, enfim, todo o arsenal necessário para subjulgar seus inimigos e reduzí-los a pó.

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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Enseada

por Kywsy Santos

Pode ser um engano fatal,
ou não...
Pode ser "outra vez", nada mais,
talvez...
Pode ser que eu me esqueça, que eu não apareça, que eu desapareça,
não sei...



Outra vez o cenário ideal, eu vi...
Outra vez as estrelas no céu, toquei...
Vi a sombra de um anjo, num breve momento, passou como um vento,
se foi...


Uma linha separa dois mundos
Uma linha divide dois tempos
Dois momentos distantes, num céu cintilante, que um passo modificará...


O que será?
O que será?
O que será?!
Como escolher?
Como saber?

Dá tua mão...
Nada é menor que encontrar-se tão só!
Deixa eu pensar que eu existo...
Que você é real neste instante...
Olha pra mim, fica assim...
Me concede esse quarto de segundo,
Depois nós voltamos pro mundo.


(Escrito em 23 de Maio de 2011).


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Solilóquio






"Respira... Solta o estômago... Relaxa o abdomem... Respira..."

"Vai passar, falta pouco"...

"Você não tem que fazer nada... Não fazer nada..."

"Espera, vai passar..."

"Olha para o teto... Levanta a cabeça! Os olhos, usa os olhos... Olhar para o alto..."

"Assim... Não se mexa... Falta pouco... Aguenta um pouco mais... Vai passar..."

"Respira... Solta o estômago... Relaxa o abdomem..."

"Respira, respira... Respira!!!"






sexta-feira, 8 de julho de 2011

Agora

por Kywsy Santos


"Te vi,
colhias margaridas em Mar del"...


A ternura existe, o amor, a capacidade de se doar. Existe alguém que pode caminhar efetivamente ao seu lado e, contrariando as estatísticas, "estar com", ainda que seja por um breve momento. Depois, perdão a todos os vieram depois, mas, a solidão é melhor quando a gente está sozinha.



Não quero sentir saudades, quero sentir verdade.






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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Presente de Deus

por Kywsy Santos

"... Terra! Terra! Por mais distante. O errante navegante. Quem jamais te esqueceria?..." (Caetano)

Quem...
            jamais...
                         te esqueceria....

Era o Katrina, e o universo girando sem rumo, girando e desfazendo todas as dores. Era manhã de sol na beira do mar, um vento suave, canções de calmaria e paz. Era loucura, incêndio, sangue e tensão. Era feroz e desavergonhado e era doce e delicado. Era um presente de Deus. Vontade que não se ousa imaginar, desejo que não se espera que um dia aconteça. Era a graça e a absolvição. O paraíso em dores de parto: Era lindo.

Depois, o vento se foi. Não era mais nada. Um deserto infinito que se estendia por léguas e léguas. A areia silenciosa e omissa. Nada. Ninguém. Nenhuma folha balançava no cenário destruído, nenhum sinal de vida, um vazio que descortinava toda a pequenez da realidade humana. Nenhuma palavra, respeito, atenção. Um véu de coisa nenhuma que desfazia os fios do tempo passado juntos. O contra-vácuo de onde nada emerge, mas se perde para sempre. O descarte utilitário do jogo.

Estava de pé sobre os escombros. A dinâmica da queda exige levantar-se. Nada que pudesse resgatar, levar consigo como um souvenir. No peito a lembrança fugidia do desejo, do gosto doce do Malibu, da estrela cadente. Uma única certeza: nada sobreviveria às areias do tempo. Tirou o cantil da cintura e o deixou amarrado nos destroços: Queria deixar-lhe um último presente. Partiu.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ser livre...

por Kywsy Santos

 Se toda a filosofia e a ciência 
 não houvessem começado muito mal,
 Se a "natureza humana" 
 ousasse transcender o princípio dual,
 Se eu pudesse ancorar, nessa enseada,
  entre o bem e o mal...


 Talvez não visse que a mensagem dúbia 
 de aprisionamento
 Serve a dois mestres vis, 
não serve ao pensamento.
 "Liberdade, pra devorar tua alma...
 ...com o teu consentimento".


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Um toque...


 Se, hoje, houvesse uma oportunidade, um momento   de  lucidez e  coragem que desfizesse essa névoa,  eu   chegaria bem perto e te diria ternamente: 
Eu acredito.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ação !!!

por Kywsy Santos  



Olhos, mãos, perfume, sorriso, vontade

apreço, simpatia, admiração

boca, desejo, intenção

mistério, contradição

espaço, tempo

amor, sexo...

Por que não?




quarta-feira, 4 de maio de 2011

Entre Cortinas e Muros

por Kywsy Santos





































Era noite no infinito azul do céu, era noite em toda parte.
Teus olhos talvez nunca vejam, mas estava exatamente aqui...
Operários construíram um espaço pelo avesso,
um lugar de não ser, de não ver, de não sentir.
Muro, espaço sem encontro que aprisiona do lado de fora,
escudo cego a gerar braços destituídos de abraços.
Sempre que o muro cai, o mundo comemora aliviado...
Depois, semeia lentamente a intolerância,
até o tempo de colher muralhas.


terça-feira, 29 de março de 2011

Os Jardins da UFRR

Março de 2011.
Os jardins da universidade estão explodindo em cor. É impossível ignorar tanto brilho, tanta luz e o colorido intenso das flores. Estamos no inverno, mas, do ponto de vista dos jardins, parece que estamos em plena primavera. A gente chega e é inundado de alegria, assiste às aulas (as boas e as chatas), sai e é novamente inundado de alegria. Alguma coisa mudou nesse semestre, estamos todos com cara de férias. E não é porque não tenhamos problemas: Estamos sem alguns professores; as ementas das disciplinas, como sempre, são formuladas como se fossemos estudar uma única matéria; e, novamente, tivemos que dividir a grade entre a manhã e a noite. Tudo está especialmente confuso este semestre, menos os jardins.
Os jardins estão explodindo em cor.


sábado, 19 de março de 2011

Vamos Ver: Chamei Minha Tribo

de Pablo Neruda


"Vamos ver! Chamei minha tribo e disse: vamos ver
quem somos, que fazemos, que pensamos.
O mais pálido deles, de nós,
me respondeu com outros olhos,
com outra sem-razão, com sua bandeira.
Esse era o pavilhão do inimigo.
Aquele homem, talvez, tivesse o direito
a matar minha verdade, assim como aconteceu
comigo e com meu pai, e ainda assim acontece.
Mas sofri como se me mordessem".

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sexta-feira, 18 de março de 2011

Adeus...


por Kywsy Santos
















Miséria, miséria, por toda parte...
A vida é mais forte que o ‘estado da arte’.
Palavras não vão explicar a crueza,
A dor, a maldade, a vil natureza...

Se eu choro ou não choro, o dia amanhece
Prefiro calar e fazer uma prece
O que a alma suporta,
O coração não esquece.

“Dormir, talvez sonhar”...

– Ah, Deus!
(Que Deus te ilumine...)
– Há Deus!
(Que Deus te acompanhe...)
– Adeus!
(Que Deus te ilumine...)
– Adeus!
(Que Deus te acompanhe...)
Nunca foi tão bom dizer adeus.




Agora não dá pra fingir que não viu
E fica tão clara a verdade:
Mentira, mentira, por toda parte...
Entregue...



 ... a Deus!
(Que Deus te ilumine...)
– Há Deus!
(Que Deus te acompanhe...)
– Adeus!
(Que Deus te ilumine...)
– Adeus!
(Que Deus te acompanhe...)
Nunca foi tão bom dizer adeus. 

"Apaga-te, apaga-te pequena chama"...

– Ah, Deus!
(Que Deus te ilumine...)
– Há Deus!
(Que Deus te acompanhe...)
– Adeus!
(Que Deus te ilumine...)
– Adeus!
(Que Deus te acompanhe...)
Nunca foi tão bom dizer...
... adeus.