"... Terra! Terra! Por mais distante. O errante navegante. Quem jamais te esqueceria?..." (Caetano)
Quem...
jamais...
te esqueceria....
Era o Katrina, e o universo girando sem rumo, girando e desfazendo todas as dores. Era manhã de sol na beira do mar, um vento suave, canções de calmaria e paz. Era loucura, incêndio, sangue e tensão. Era feroz e desavergonhado e era doce e delicado. Era um presente de Deus. Vontade que não se ousa imaginar, desejo que não se espera que um dia aconteça. Era a graça e a absolvição. O paraíso em dores de parto: Era lindo.
Depois, o vento se foi. Não era mais nada. Um deserto infinito que se estendia por léguas e léguas. A areia silenciosa e omissa. Nada. Ninguém. Nenhuma folha balançava no cenário destruído, nenhum sinal de vida, um vazio que descortinava toda a pequenez da realidade humana. Nenhuma palavra, respeito, atenção. Um véu de coisa nenhuma que desfazia os fios do tempo passado juntos. O contra-vácuo de onde nada emerge, mas se perde para sempre. O descarte utilitário do jogo.
Estava de pé sobre os escombros. A dinâmica da queda exige levantar-se. Nada que pudesse resgatar, levar consigo como um souvenir. No peito a lembrança fugidia do desejo, do gosto doce do Malibu, da estrela cadente. Uma única certeza: nada sobreviveria às areias do tempo. Tirou o cantil da cintura e o deixou amarrado nos destroços: Queria deixar-lhe um último presente. Partiu.