terça-feira, 27 de setembro de 2011

Amantes

Um deles era reservado e estranho e costumava assumir o mal como bandeira,  como condição objetiva de humanidade. Mal que era bom, que era dele e de todos, negado e perseguido apenas por hipócritas e abastados.  Filosoficamente, limitara seu mundo a duas verdades absolutas: um discurso de realidade, a dele; e a um "estado de natureza" - conceito muito amplo que variava desde um apelo biológico, como o sexo, às ações coercitivas do Estado ou das supostas "leis internacionais". Considerava-se um soldado. Guerreiro de uma guerra absoluta cujo único objetivo consistia em subjulgar seus inimigos e reduzí-los a pó. Depois, mais inimigos: mocinhas provocantes, mulheres mal amadas, bichas, doentes mentais e burgueses - todos pecadores, todos culpados, condenados e, certamente, ao alcance da merecida punição. Parecia não compreender nada além do que justificasse suas ações infames, sua violencia incontida. Violencia que nunca se manifestava contra um adversário à sua altura, contra esses, apenas o discurso, a malandragem. Ainda assim, julgava-se uma vítima. Não acreditava no amor e era apenas no sexo que expressava todo o  seu potencial de ternura, suavidade e devoção. Não fazia amor, era um mestre na arte de dar prazer, um artista.

O outro,  era apenas diferente, mas, de alguma forma, profundamente igual...

Para ela não era uma questão de escolha, mas, de sobrevivência, e isso lhe dava coragem para encontrar dentro de si a lascívia, a covardia, o oportunismo, enfim, todo o arsenal necessário para subjulgar seus inimigos e reduzí-los a pó.

.

Nenhum comentário:

Postar um comentário