de Kywsy Santos
Um dia sonhei que estava de pé à beira de um lago. Era
uma visão de seca, típica do nordeste brasileiro. O chão, de barro rachado, se
estendia até o infinito. Não havia água no lago, apenas um pouco de lama,
uma lama espessa, da mesma cor vermelha do barro que se estendia por toda parte e, no
centro do lago, dentro dessa lama, havia uma árvore morta, apenas um tronco oco
de pé, e um tabuleiro - desses que se vê muito pelo nordeste, onde se vendem
doces pra criançada. Eu me aproximava do tabuleiro que estava cheio de pequenos
papeis brancos dobrados e jogava dentro dele um bilhete. Era um pedaço de papel
amarelo dobrado em quatro. Depois, olhava em volta e percebia que a lama, todo
o lago, estava coberta de cadáveres, uns sobre os outros, mergulhados no
vermelho do barro. Rapidamente, avancei sobre o tabuleiro e resgatei o meu
papel. Entendi que aquelas pessoas tinham sido vitimadas pelo que haviam escrito em
seus bilhetes. Abri meu papel e li:
"Estou morrendo de saudades".
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