quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Palavras

de Kywsy Santos

Um dia sonhei que estava de pé à beira de um lago. Era uma visão de seca, típica do nordeste brasileiro. O chão, de barro rachado, se estendia até o infinito. Não havia água no lago, apenas um pouco de lama, uma lama espessa, da mesma cor vermelha do barro que se estendia por toda parte e, no centro do lago, dentro dessa lama, havia uma árvore morta, apenas um tronco oco de pé, e um tabuleiro - desses que se vê muito pelo nordeste, onde se vendem doces pra criançada. Eu me aproximava do tabuleiro que estava cheio de pequenos papeis brancos dobrados e jogava dentro dele um bilhete. Era um pedaço de papel amarelo dobrado em quatro. Depois, olhava em volta e percebia que a lama, todo o lago, estava coberta de cadáveres, uns sobre os outros, mergulhados no vermelho do barro. Rapidamente, avancei sobre o tabuleiro e resgatei o meu papel. Entendi que aquelas pessoas tinham sido vitimadas pelo que haviam escrito em seus bilhetes. Abri meu papel e li: 
"Estou morrendo de saudades".





.Foto de Bené França.
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